Aquela linda ave que sempre foi livre, nunca precisou de ninguém ao seu lado, nunca teve amor e companhia, mas mesmo assim nunca sentiu falta, pois sempre foi acostumada a viver só de um modo independente de tudo, encarando friamente seu dia a dia. Essa ave era triste e não sabia. O nome dela era Solidão.
Um
certo dia ela encontrou outra ave, chamada Amor, ora, foi um espanto, esta, era
completamente diferente no seu modo de voar, seu modo de cantar, olhar e
principalmente o modo de encarar a vida. Como era de se esperar, Solidão,
não foi falar com a bela ave, o orgulho sempre esteve presente. Portanto Amor
foi quem veio.
Logo
na primeira conversa, Solidão foi falando tudo o que
pensava, sem parar, palavras sendo ditas como um metralhadora ao ar livre, palavras insignificantes que dizem nada com nada, sem sentido, sem emoção, sem
valor algum, sem entendimento até para quem diz. Amor se manteve calada, ouvindo atenciosamente mesmo que tudo aquilo seja falado da boca pra fora.
Em
um instante de silêncio, Amor perguntou a Solidão: Você é feliz?
Solidão
que tudo respondia, a esta pergunta permaneceu em silêncio. Não sabia
responder, nunca havia se questionado quanto a isso, tinha seu próprio ponto de
vista, enxergava a vida assim, como sempre foi e sempre vai ser, não há como
mudar.
Então,
Amor
contou-lhe sobre sua vida, falou das emoções, da felicidade, dos sonhos,
conquistas assim como da tristeza, orgulho, maldade e sofrimento. Solidão achou
tudo aquilo uma besteira, uma tremenda perca de tempo, e em minutos depois os
dois começaram a discutir. Dois pontos de vista diferentes, duas aves num mesmo
habitat, mas com histórias e maneiras de agir e pensar opostas.
Amor
por mais inteligente, grandioso que pareça até aqui, não era perfeito, não era
um bom modo de ser uma ave (e não existe um modo certo de ser), como todos nós
imperfeitos e “incompletos”. Amor apesar de dar valor a quem é, a
sentimentos, ao respeito com o outro, tinha um defeito enorme era muito
dependente e inseguro, sentia tanta falta da outra pessoa como se ela fosse uma
parte de seu corpo que minutos longe estaria morrendo, não conseguia ficar só,
coisa muito diferente de Solidão, assim como Solidão
não conseguia ficar com alguém. Eram opostos, totalmente diferentes, Solidão sem
saber que os seus maiores defeitos era um pouco do que faltava em Amor
(aprender a ter momentos sozinhos). E Amor com suas tantas qualidades tinha o
que faltava em Solidão (aprender a viver com o outro e saber o que é a
felicidade).
Com
o tempo, Solidão começou a refletir melhor o que Amor falava, e Amor fez o
mesmo. Cada um procurou pensar em si e ver o que poderia melhorar, e o que
menos se esperava, aconteceu, eles formaram um casal. Mesmo com suas
diferenças, suas implicâncias, aprenderam a conviver juntos, havendo o amor,
sentimento de entrega mútua, respeito, felicidade, valor ao que cada um
representa na vida do outro, e solidão no sentido de que cada um precisa de seu momento, cada um é
diferente, as vezes precisa ficar só, é “completo” e a sua felicidade não
depende necessariamente do outro, mas, que é com o outro que transbordamos esta
felicidade, aprendemos a ser nós e eu ao mesmo tempo, aprendemos a compartilhar
momentos, a entender outro ponto de vista, lutar para dar certo, entregar-se a
um sentimento profundo e gigante mas também saber que terá que encarar a
tristeza, dor e dificuldade pelo caminho. Tudo faz parte da vida, tristeza,
felicidade, dor, prazer... só temos que saber conviver, aceitar, aguentar e
melhorar.
Será
que Amor
e Solidão
viveram felizes para sempre?
Será que estão juntos até hoje?
Bom, eles podem nem ter ficado mais de um mês junto. Ou então podem ter vivido um
bom tempo feliz, por um tempo deu certo, mas teve que acabar, não era pra ser. Ou então, eles estão até hoje um ao lado do outro, lutando para dar certo,
convivendo cada um com os defeitos e qualidades do outro, passando pelas
dificuldades, sofrendo também as vezes, porque não? Mas ainda há aquele
sentimento de felicidade muito forte, amor mútuo que os une num laço, que é
difícil de ser desfeito, pois um necessita da companhia do outro e não pensa em
outro alguém para estar ao lado.
(Renan Vinícius Gnatkowski)
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